Carvão

O carvão permanece como o combustível mais utilizado na geração de energia elétrica no mundo. 

Pode-se considerá-lo uma rocha orgânica sedimentaria de origem vegetal, formado por moléculas de carbono, hidrogênio, oxigênio e pequenas parcelas de nitrogênio e enxofre formadas a partir de processos biológicos, físicos e químicos. 

Denomina-se de cinzas a parcela inorgânica, sempre muito encontrada no carvão que funciona como uma mistura e não participa da composição química da parcela orgânica.

A Figura 1 ilustra uma possível molécula de carvão, onde se observa o tamanho e complexidade.

molecula carvao
Figura 1. Possível molécula de carvão

Portanto, o carvão consiste num produto heterogêneo, cuja composição e, consequentemente, propriedades variam de mina para mina.

Classificação do Carvão

Por conveniência, toda a gama carvões se classifica em:

    • Antracito;
    • Betuminoso;
    • Sub-betuminoso;
    • Lignito ou linhito.

Esta classificação se relacionada com a idade geológica do carvão, sendo o primeiro grupo – Antracito – o mais antigo e o último – Linhito – o mais novo.

A classificação do carvão em categorias práticas e de uso internacional se torna difícil porque os sistemas de classificação não se encontram unificados no mundo e existem características que afetam a qualidade do carvão que independem da idade do carvão.

Os critérios internacionais utilizados para a classificação dos carvões se baseiam no:

    • Poder calorífico;
    • Conteúdo de material volátil;
    • Conteúdo de carbono fixo;
    • Propriedades de coqueificação.

Além disso, as seguintes propriedades, que independem de sua idade geológica, afetam o valor comercial do carvão:

    • umidade;
    • cinzas;
    • conteúdo de enxofre, fósforo, nitrogênio etc.

Por isso, a Comissão Econômica Europeia classifica o carvão em dois grupos:

    • Hard Coal – Carvões com poder calorífico bruto maior do que 5 700 kcal/kg (23,9 GJ/t) medido sem cinza, mas com umidade e com reflectância aleatória média maior que 0,6.
    • Brown Coal – Carvões com poder calorífico bruto menor do que 5 700 kcal/kg (23,9 GJ/t) com conteúdo volátil maior do 31% em base seca.

A Agência Internacional de Energia (International Energy Agency –IEA), sediada na Europa, utiliza esta classificação em todos os seus trabalhos e bancos de dados e, consequentemente, utiliza-se essa definição nesse curso.

Em termos comerciais e de aplicação, o carvão é classificado em:

    • Coque ou
    • Carvão Térmico.

O coque é um Carvão Duro (Hard Coal) utilizado na produção de aço e, por isso, precisa ter a capacidade de resistir mecanicamente ao peso de uma carga de minério nos fornos siderúrgicos.

Por outro lado, o Carvão Térmico (Steam Coal) também é um Carvão Duro (Hard Coal) que não possui as características mecânicas do Coque.

Conforme mostrado no Capítulo História da Energia, sua utilização doméstica foi abolida e seu uso industrial se encontra em processo de extinção.

Como as caldeiras modernas utilizam carvão pulverizado, o Carvão Térmico possui resistência mecânica menor que a do coque para facilitar a moagem.

Portanto, a IEA calcula o Hard Coal como sendo a soma do Coque (Coking Coal) e do Carvão Térmico (Steam Coal) e igual à soma dos carvões classificados como Antracito e Sub-Betuminoso.

Porém, alguns países utilizam seu carvão sub-betuminoso na geração de vapor e, consequentemente, o classificam como carvão térmico. Isto cria uma dificuldade na análise dos dados globais e na comercialização.

Brown Coal é a soma dos carvões Sub-betuminosos e Linhitos.

Os Sub-betuminos são carvões não aglomerados com poder calorífico bruto entre 4 165 kcal/kg e 5 700 kcal/kg e os linhitos também são não aglomerados com poder calorífico bruto abaixo de 4 165 kcal/kg.

Teoricamente, pode-se gerar energia elétrica com todos os tipos de carvão, mas aspectos econômicos, logísticos e tecnológicos levaram a geração de energia elétrica a utilizar apenas o carvão térmico.

Não tem sentido utilizar carvão metalúrgico para geração de energia porque deixaríamos de produzir aço e teríamos dificuldade de transformar o carvão em pó para as caldeiras.

Por isso, utiliza-se o carvão metalúrgico exclusivamente na siderurgia e seu preço é superior ao preço do carvão térmico ou energético.

O Brown Coal também pode ser utilizado para a geração de energia elétrica, mas, como seu poder calorífico é menor, torna-se necessário queimar uma quantidade maior de carvão para obter a mesma quantidade de eletricidade.

Portanto, ele somente se torna economicamente viável se o preço do combustível for muito mais barato e/ou se o custo de transporte for baixo.

Por isso, a utilização de Brown Coal na geração de energia elétrica se restringe aos países produtores deste carvão e sua comercialização no mercado internacional se torna inviável devido ao custo do transporte.

Análise do Carvão

Como o carvão é um produto heterogêneo, torna-se necessário analisá-lo e classificá-lo para a comercialização e uilização.

Existem dois tipos de análise para a classificação do carvão e/ou controle de qualidade:

    • Análise Aproximada (Proximate Analysis);
    • Análise Detalhada (Ultimate Analysis);

Análise Aproximada

A análise aproximada fornece apenas os dados de umidade, cinzas e matéria volátil.

Umidade

Conforme visto no capítulo de combustíveis, a umidade reduz o poder calorífico inferior do combustível. Portanto, a determinação correta da umidade se torna fundamental na utilização e comercialização do carvão.

Devido à estrutura porosa do carvão, quantidades consideráveis de água podem ser armazenadas mesmo quando aparentemente seco.

A umidade existente no ar penetra nos poros do carvão aprisionando quantidades significativas de água.

Em função disso, definiram-se diversas condições para especificar o carvão. Essas condições se encontram no Anexo Definições.

Determina-se a umidade de uma amostra de carvão recebida (ar- as received) através do aquecimento da amostra a 105°C em atmosfera inerte (sem oxigênio) durante 90 minutos. A diferença de peso da amostra antes e depois do aquecimento equivale ao peso da umidade.

O poder calorífico consiste na principal característica de todos os combustíveis e a Tabela em anexo apresenta o poder calorífico do carvão.

 

Referências

  1. MILLER, B. G., TILMAN, D. A., Combustion Engineering Issues for Solid Fuel Systems, Elsevier, 2008.1
  2. SPLIETHOFF, H., Power Generation from Solid Fuels, Springer, 2010.2
  3. WILLIANMS, A. et all, Combustion and Gasification of Coal, Taylor & Francis, 2000.3