“A fonte de todas as energias é o sol. O grande desafio consiste em como usar toda essa energia.”
George P Shultz
O sol fornece a energia primária da terra, e as energias solar, eólica, biomassa e hidrelétrica dependem dele.
Até mesmo as fontes fósseis se originam do sol porque resultam da decomposição de material orgânico, por ele criado.
Apenas as energias geotérmica e nuclear independem do sol, apesar do núcleo da terra e do urânio terem sido criados em alguma estrela.
Existem duas tecnologias atualmente disponíveis para o aproveitamento da energia solar: a Fotovoltaica e a Termossolar.
A Termossolar transforma a energia do sol em eletricidade utilizando máquinas térmicas operando com ciclo Rankine.
A Fotovoltaica converte a luz diretamente em eletricidade através de semicondutores utilizando o efeito fotoelétrico. Portanto, a geração Fotovoltaica constitui a primeira conversão de energia totalmente elétrica e baseada na Mecânica Quântica.
A Figura 1 apresenta o potencial de geração Fotovoltaica mundial.
Observa-se que o Brasil não apresenta os índices mais elevados apesar de ser um país tropical e quente, mas possui um potencial que deve ser aproveitado.
Adicionalmente, observa-se que as regiões próximas à linha do Equador não apresentam o maior potencial fotovoltaico devido à influência das nuvens e da chuva, mas as regiões mais áridas e elevadas possuem os maiores potenciais.
A Figura 2 apresenta o potencial fotovoltaico do Brasil. Observa-se que o interior apresenta o maior potencial e o litoral do sudeste o menor. Adicionalmente, a região próxima ao Equador não possui o maior potencial.
O Sol
Portanto, o estudo do sol se torna fundamental para entender a energia em nosso planeta. O sol possui as seguintes características:
-
- estrela de magnitude 51;
- composto de hidrogênio (77%) e Hélio (21%);
- massa de 2×1030 kg;
- raio em 7×105 km;
- e densidade média em 1 400 kg/m3.
O equilíbrio entre a força explosiva da fusão nuclear e a força de atração da gravidade mantêm a temperatura e a pressão necessárias para estabilizar a estrela emitindo 3,8×108 TW para o espaço. Em decorrência deste equilíbrio, a energia emitida deverá permanecer constante nos próximos bilhões de anos.
A Figura 3 mostra o modelo do interior do sol.
Reações termonucleares ocorrem no seu centro e a energia flui para o exterior pelos mecanismos de radiação e convecção.
O núcleo apresenta temperatura aproximada de 107 K e densidade 100 vezes maior do que a da água.
A temperatura e densidade diminuem com o aumento da distância ao centro e estabiliza em 5 000 K na superfície.
De acordo com Carroll, as seguintes reações termonucleares produzem a energia do sol.
Onde:
-
- e+ é o pósitron;
- ve é o neutrino;
- γ é a radiação gama.
Estas reações ocorrem com velocidades distintas e liberam diferentes quantidades de energia no núcleo do sol.
A primeira reação da Equação ocorre lentamente (1010 anos) e libera pouca energia, mas sem ela as demais não poderiam ocorrer.
A segunda reação, muito mais rápida (1 s), libera um pouco mais de energia, e, sem ela, a última também não ocorreria.
Finalmente, a terceira reação, que ocorre numa escala de tempo de 300 000 anos, libera a maior parte da energia – 12,86 MeV. A energia total liberada, para 4 núcleos de Hélio gerados, é de 26,73 MeV. Esta energia equivale ao defeito de massa entre o núcleo de Hélio 4 e 4 prótons livres. Graças às reações mais lentas, o sol emite energia de forma estável durante tanto tempo.
Conforme mostra a Figura 5, os fótons devem atravessar quatro regiões; Fotosfera, Cromosfera, Transição e Corona até iniciarem sua viajem pelo espaço.
Nestas camadas, partículas carregadas formam campos magnéticos intensos que criam fenômenos como explosões solares, manchas solares e o vento solar.
A análise destes fenômenos mostrou possuírem uma periodicidade de aproximadamente 11 anos e afetam o clima na terra.
Energia do Sol
Como inexiste matéria entre a camada mais externa do sol e a terra, a transmissão de energia ocorre pela radiação térmica.
Numa primeira aproximação, pode-se considerar o sol um corpo negro emitindo energia em todo o espectro de frequência e em todas as direções.
A potência emitida por um corpo negro segue a equação de Stefan-Boltzman, e a Astronomia denomina a potência emitida pelas estrelas -Eb– de Luminosidade – L.
Onde:
-
- Eb é a potência emitida por um corpo negro ou Luminosidade da estrela [W];
- σ é a constante de Stefan-Boltzmann [5,670 373 10-8 W/(m2 K4)];
- A é a área [m2];
- T é a temperatura [K].
A Irradiância do sol consiste na sua Luminosidade (potência) por unidade de área.
A Irradiância diminui com o inverso da distância ao quadrado, de acordo com a equação abaixo, porque a Luminosidade permanece constante:
Onde:
-
- I é a Irradiância [W m-2];
- L é Luminosidade [W];
- D é a distância entre o sol e o ponto desejado [m].
Denomina-se de Constante Solar a Irradiância do sol na distância de uma unidade astronômica 2, que vale aproximadamente 1 361 W m-2.
Como a distância entre o sol e a terra varia, deve-se ter cuidado ao utilizá-la na solução de problemas práticos.
Exemplo 1
Considerando a luminosidade e o raio do sol apresentados na tabela abaixo, determine a temperatura na sua superfície.
Baseado na equação 2, teremos que:
Exemplo 2
Considerando a temperatura calculada no exemplo anterior, estime a irradiância solar na superfície do sol.
A Irradiância será dada por:
Exemplo 3
Determine o comprimento de onda que transmite mais energia do sol.
Baseados na Lei de Wein, o valor máximo da irradiância espectral ocorre sempre para λ.T for igual a 2 897,8 μm.K. Desta maneira, teremos que:
Este comprimento de onda se encontra dentro da faixa da luz verde, e parcela significativa da energia solar se encontra na faixa da luz visível.
Em decorrência da seleção natural e evolução das espécies, a visão humana se adaptou a esta faixa de frequências.
Tabela 1 – Dados do Sol e da Terra
Fonte: Zombeck
Dados Valor Unidade
Constante Solar 1,37 kW/m2
Densidade do núcleo 140 a 180 g/cm3
Densidade Média 1,4 g/cm3
Distância entre o sol e a terra 1,496e8 km
Idade 4,5e9 anos
Luminosidade 3,8e26 W
Massa da Terra 6e24 kg
Massa do Sol 2e30 kg
Período de Rotação 25,05 dias
Radiância Média 2,009e7 W/m2/sr
Raio do sol 7e8 m
Temperatura do Núcleo 15e6 K
Temperatura na Superfície 5800 K
Exemplo 4
Qual seria a temperatura de equilíbrio de um planeta sem atmosfera?
Em condições de equilíbrio, a temperatura do permanece constante e o balanço de energia se torna nulo. Isto significa que toda a energia recebida do sol deve ser refletida para o espaço.
Assumindo que o planeta:
-
-
- não possui atmosfera;
- se aproxima de um corpo negro esférico com raio Rt;
- possui temperatura média uniforme igual a Tt;
- gira ao redor do sol em órbita circular de raio Dt;
- reflete para o espaço uma parcela da energia recebida do sol – α,
-
A equação 2 pode ser aplicada da seguinte maneira:
Onde:
-
-
- Er é a energia refletida pelo planeta [W];
- Ei é a energia incidente no planeta [W];
- Tp é temperatura do planeta [K];
- Ap é a área de toda a superfície do planeta [m2];
- Asp é a área iluminada do planeta [m2]; 3;
- Rp é o raio do planeta [m];
- α é o albedo ou coeficiente de reflexão do planeta (energia refletida dividida pela energia recebida)
- L é a luminosidade solar [W];
- D é a distância do sol ao planeta [m].
-
A luminosidade do sol é dada por:
Substituindo a Equação 5 na Equação 4 e igualando a energia recebida à energia refletida, teremos que a temperatura do planeta será dada por:
Observa-se que a temperatura do planeta depende do coeficiente de reflexão do planeta, do raio do sol, e da distância entre o planeta e o sol. Curiosamente, ela independe do tamanho do planeta.
Considerando um albedo médio de 30% na terra, sua temperatura de equilíbrio deveria ser de -16 ºC, valor muito abaixo da real temperatura média na superfície.
A influência da atmosfera e do efeito estufa, desconsiderados neste cálculo aproximado, explicam esta discrepância. Portanto, se não existisse o efeito estufa e nem a atmosfera, não teríamos vida como a conhecemos na terra.
Referências
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- ARCHER, D., Global Warming – Understanding the Forecast, 2ª edição, Wiley, 2012.
- CARROLL, B.W., OSTLIE, D.A., An Introduction to Modern Astrophysics, 2ª edição, Pearson, 2014.
- BADESCU, V., Modeling Solar Radiation at Earth’s Surface, Springer, 2008.
- ESCOLA NAVAL, Navegação Astronômica, Ministério da Marinha, 1978.
- MILONE, E.F., WILSON, W.J.F., Solar System Astrophysics, Springer, 2008.
- SEN, ZEKAI, Solar Energy Fundamentals and Modeling Techniques, Springer, 2008.
- WENHAM, S.R., GREEN, M.A., WATT, M.E., CORKISH, R., Applied Photovoltaics, Earthscan, 2007.
-
ZOMBECK, MARTIN. Handbook of Space Astronomy and Astrophysics., 2nd ed. Cambridge University Press, 2003.
- http://rredc.nrel.gov/solar/spectra/am0/ASTM2000.html
- https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Solar_spectrum_ita.svg
- https://en.wikipedia.org/wiki/Earth#/media/File:AxialTiltObliquity.png
- Atlas Solar Global
- Global Solar Atlas