“Não somos viciados em petróleo, mas nossos carros são.”
O petróleo, também chamado de ouro negro, se tornou a principal mercadoria negociada no mundo e o energético mais importante. Guerras, fortunas, conflitos e desastres ocorreram por sua causa. No entanto, a vida moderna depende totalmente deste líquido viscoso.
O petróleo começou a ser usado na antiga Babilônia para assentar tijolos e calafetar embarcações. Os Egípcios utilizaram-no para pavimentar estradas, embalsamar múmias e construir pirâmides. Gregos e Romanos o utilizavam para fins bélicos. Nestes tempos antigos, o petróleo era retirado de aflorações naturais.
No entanto, a indústria do petróleo começou em 1859 com a exploração comercial do primeiro poço nos EUA. Os EUA desenvolveram a produção e a utilização deste produto, e seu desenvolvimento no século XX pode, pelo menos em parte, ser atribuído à esta nova indústria.
Até então, o carvão dominava o mercado dos combustíveis no mundo, tendo sido o responsável pela Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra. Até o final da Segunda Grande Guerra (1945) os EUA eram os maiores produtores mundiais, seguido da Venezuela e México.
No Brasil, a história do petróleo começou em 1858 quando o Marques de Pombal assinou o decreto concedendo o direito de extração de material betuminoso para a fabricação de querosene na Bahia. No entanto, somente a partir de 1953, com a criação da Petrobras e do monopólio do petróleo, esta indústria iniciou suas atividades no Brasil.
O petróleo não possui composição uniforme, ela varia de acordo com a localização e com a profundidade do poço. Pode-se defini-lo como um líquido constituído de hidrocarbonetos e compostos de nitrogênio, enxofre e oxigênio. Traços de outros elementos, tais como metais e sais também podem estar presentes.
O Petróleo na Geração de Energia
Apesar da diminuição do uso do petróleo na geração de energia elétrica ao longo do tempo, sua participação continua estrategicamente importante. A geração de eletricidade a partir do petróleo foi de 747 TWh em 2019, que representa um valor 19% maior do que toda a eletricidade gerada no Brasil nesse ano.
Por que o mundo ainda gera esta quantidade de energia elétrica a partir do petróleo?
Por que países desenvolvidos, como Japão e Estados Unidos, ainda utilizam este combustível para a geração de energia elétrica?
A resposta é simples. O óleo se tornou a fonte de energia mais comercializada no mundo e, consequentemente, a mais utilizada para a geração flexível e emergencial.
De acordo com a Agência Internacional de Energia1, utiliza-se o óleo para geração de energia elétrica pelas seguintes razões:
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- Geração de Ponta e Intermediária;
- Geração Emergencial;
- Geração Temporária;
- Geração em Sistemas Isolados.
Conforme veremos no Capítulo de Aspectos Econômicos, o custo do investimento determina o custo da geração quando o fator de carga tende a zero. Consequentemente, a geração na ponta se torna mais econômica com térmicas a óleo.
A energia elétrica se tornou indispensável na vida moderna e, por isso, diversos consumidores não podem correr o risco de ficar sem ela. Isto cria uma demanda crescente para a geração emergencial a óleo.
As térmicas a óleo consistem na geração mais rápida e barata de se construir, e seu combustível se encontra disponível mais facilmente. Além disso, os combustíveis derivados de Petróleo possuem elevada densidade de energia. Por isso, utiliza-se este tipo de geração em regiões atingidas por catástrofes naturais ou provocadas pelo homem.
Por último, regiões isoladas, tais como ilhas, não possuem alternativa técnico-econômica de geração diferente de térmicas a óleo.
Porém, existem outras razões técnicas e econômicas para manter esta geração na matriz de todos os países.
Em decorrência de seu menor custo de investimento, esta geração apresenta vantagens econômicas para suprir a energia nos horários de pico e reduzir o risco das fontes renováveis (eólica, solar e hidrelétrica).
O preço do combustível e as questões ambientais contribuem para a redução do seu uso. Contudo, para países exportadores de petróleo e carentes de outras fontes de energia, este problema não existe.
A Figura 1 apresenta os maiores geradores de energia elétrica a partir de derivados de petróleo. A Arábia Saudita continua o maior gerador com 22,5% do mercado mundial, e o Japão caiu do segundo lugar, decorrência dos terremotos e tsunamis que assolaram a região, para a quarta posição.
Todos os países na figura produzem petróleo em grandes quantidades, exceto Japão, Egito, Líbano e Cuba.
O Brasil apareceu pela primeira vez nesta lista em 2015 devido ao ciclo hidrológico desfavorável naquele ano. Contudo, deixou de fazer parte deste grupo em 2017, mas deverá voltar no próximo ano em decorrência de nova seca.
Figura 1. Maiores Geradores de Eletricidade a partir de derivados de petróleo
A Figura 2 mostra a geração de eletricidade no Brasil a partir de derivados de petróleo ao longo do tempo.
Observa-se que houve um pequeno aumento em 2001, que foi incapaz de evitar o racionamento. Na ocasião, a capacidade instalada de usinas termelétricas era praticamente zero.
A partir deste evento, iniciou-se o Programa de Termelétricas Emergenciais baseadas a óleo combustível e óleo diesel.
Alguns segmentos da sociedade combateram o programa, mas ele salvou o país de diversos racionamentos.
Conforme mostra a Figura 2, em 2014, ano mais crítico depois do racionamento de 2001, a geração a óleo representou 36% da eletricidade gerada no país.
Figura 2. Geração a partir de derivados de Petróleo no Brasil
Maiores Produtores de Petróleo
A Figura 3 apresenta dos dez maiores produtores de petróleo no mundo.
A Arábia Saudita perdeu o posto de maior produtor de petróleo do mundo para os Estados Unidos e Rússia, mas permanece em terceiro lugar. Esta mudança de posição resulta das ações da OPEP para controlar o preço internacional do Petróleo.
A Venezuela, que era o único país da América Latina entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo, perdeu a posição para o Brasil, que se tornou o maior produtor das Américas. Além disso, a Índia é o único país dos BRICs que se encontra fora desse grupo.
A grande questão consiste em analisar o poder de mercado de todos os participantes. O índice de Herfindahl-Hirschman Modificado de 27% mostra que existe uma forte competição no mercado produtor de petróleo, contudo ele não reflete as forças de formação de preço que dependem do comercio internacional.
Figura 3. Maiores Produtores de Petróleo
Os exportadores e importadores líquidos de qualquer mercadoria respondem pela força de mercado e os mais fortes determinam o preço. Por isso, torna-se necessário analisar quais os países envolvidos.
Maiores Exportadores Líquidos
Os dez maiores exportadores líquidos de petróleo respondem por 74% do mercado mundial, mas o índice de Herfindahl Modificado vale apenas 27%, conforme mostra a Figura 4. Isto significa que este mercado se encontra longe do oligopólio. 2
Contudo, considerando os países da OPEP como um agente único, o índice de HHM passa para 50%, comprovando a força do cartel.
A Arábia Saudita e a Federação Russa continuam os maiores exportadores. Contudo a posição dos demais mudou no último ano. Os países africanos subiram de posição, o México voltou, e o Irã saiu da lista.
Figura 4. Maiores exportadores líquidos de Petróleo
Maiores Importadores Líquidos
China e Índia se tornaram os maiores importadores de petróleo do mundo, com 24% e 11% do mercado mundial respectivamente.
A novidade foi o crescimento da Índia, que ultrapassou os EUA.
O índice de Herfindahl Modificado de 31% para o mercado de importação de petróleo, demonstra que a concentração do mercado consumidor supera um pouco a do mercado produtor. Isto significa que os importadores levam vantagem e o fato de os Estados Unidos serem o maior produtor e segundo importador desequilibra a oferta e demanda no sentido dos importadores.
Figura 5. Maiores importadores líquidos de Petróleo.
Este desequilíbrio levou à criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP – em 1960, para tentar se contrapor ao poder de mercado dos importadores de petróleo.
Recalculando o índice de Herfindahl-Hirschman Modificado da exportação de petróleo, considerando os países da OPEP como um único produtor, a concentração do mercado exportador supera a concentração dos importadores (Ihh=50%) e os exportadores passam a controlar o preço. Portanto, a OPEP realmente tem poder de mercado e deve-se considerar suas ações em todo planejamento estratégico da área energética.
Reservas de Petróleo
Apenas a produção de petróleo não estabelece a questão da matriz energética de um país porque ela determina a demanda máxima possível de ser suprida 3. Por outro lado, o tamanho das reservas da fonte de energia determina a quantidade de energia possível de ser explorada.
A grande questão reside na precisão da estimativa das reservas. A rigor, só se sabe o tamanho exato de um campo ou jazida após a sua total exploração. Em função disso, a ANP apresenta as seguintes definições.
A Figura 6 apresenta as maiores reservas de petróleo no mundo de acordo com os dados da BP. A Venezuela possui as maiores reservas apesar de ter saído da lista dos dez maiores produtores, seguida da Arábia Saudita e Canadá.
Observa-se que o índice de Herfindahl modificado das maiores reservas de petróleo vale 31%, sem considerar os países da OPEP juntos. Considerando as reservas dos países da OPEP como uma única reserva, o índice de concentração aumenta consideravelmente e comprova a força de mercado deste cartel.
O Brasil aparece nesta figura apenas para efeito de comparação porque existem muitos outros países com reservas superiores que não estão no gráfico.
Figura 6. Reservas Provadas de Petróleo
Petróleo na América Latina
A Figura 7 apresenta os maiores produtores de petróleo na América Latina. O Brasil responde por quase 52% da produção de Petróleo da América Latina. Apesar de possuir a maior reserva do mundo, a Venezuela perdeu a posição de maior produtor da região e foi ultrapassada pelo Brasil em 2016. Colombia, Equador e Argentina seguem o líder com grande diferença.
Figura 7. Maiores Produtores de Petróleo na América Latina
Conforme mostra a Figura 8, a situação nem sempre foi assim. A produção de petróleo na Venezuela iniciou seu declínio a partir de 2005 e, em 2016, perdeu a primazia na produção de petróleo pela primeira vez e o Brasil assumiu a liderança.
A diminuição da produção de petróleo na Argentina começou em 2001 e a da Colômbia em 1999. No entanto, a produção colombiana voltou a crescer a partir de 2007 e retornou aos patamares do início deste século.
Figura 8. Produção de Petróleo na América Latina ao longo do tempo
Petróleo no Brasil
A dependência avalia a vulnerabilidade geopolítica de determinado país ou região em relação a determinado produto. Mede-se a dependência como a importação líquida, quantidade importada menos a quantidade exportada, dividida pelo consumo interno do produto. No caso de fontes de energia, a avaliação deste índice requer alguns cuidados porque o comércio internacional de energéticos inclui fontes primárias e de uso final, enquanto o consumo baseia-se em fontes de uso final. Por isso, a importação líquida de petróleo foi calculada como sendo a importação menos a exportação de petróleo em barris equivalentes de petróleo. Por sua vez, a dependência foi calculada a partir da importação líquida dividida pelas vendas de derivados de petróleo também em barris equivalentes.
A Figura 9 mostra a dependência brasileira com relação ao petróleo. Observa-se que a dependência do petróleo externo decresceu de 100% em 1954 para praticamente 60% em 1970.
Apesar da crise do petróleo na década de 70, a dependência voltou a crescer até o início da década de 80. Isto ocorreu porque a produção de petróleo na plataforma submarina começou apenas em 1977, com a entrada em operação de Anchova no litoral fluminense.
A partir daí, a dependência declinou para cerca de 50% e manteve-se constante entre 40% e 50% até o final da década de 90. No final dos anos 90, a produção de petróleo no país aumentou significativamente com a entrada em operação de Marlim, Marlim Sul e Roncador no Estado do Rio.
Finalmente, em 2006 comemoramos a autossuficiência, que para ser mantida continuará demandando investimentos e muito trabalho. Contudo, a partir de 2010, a tendência se reverteu, a dependência voltou a crescer até 2013, quando a dependência voltou a diminuir a atingir seu menor valor em 2020.
Figura 9. Dependência do Petróleo
Esta histórica dependência externa do petróleo contribuiu para o Brasil concentrar sua geração na hidreletricidade, mas esta situação poderá se reverter em breve.
A Figura 10 mostra a distribuição atual da produção de petróleo no Brasil. O Estado do Rio mantém a liderança, mas São Paulo se encontra na terceira posição ameaçando o Espírito Santo. A partir de 2010, a produção de São Paulo triplicou em decorrência de novos campos.
Figura 10. Produção de Petróleo nos Estados brasileiros.
Referências
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- AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA, Relatório Mensal de Petróleo, disponível em <https://www.iea.org/oilmarketreport/omrpublic/>.
- AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA, Key World Energy Statistics, Paris, disponível em <http://www.iea.org/publications/freepublications/publication/key-world-energy-statistics-2014.html>
- ANP, <http://www.anp.gov.br/dados-estatisticos>
- BP, Statistical Review of World Energy, disponível em <https://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world-energy.html>