Turbinas a Gás

Claramente, existem muitos lugares onde o diesel é o rei ou a turbina a gás é o rei, ou os motores CI vencerão, mas há muitos lugares no mundo onde, como vimos, eles simplesmente não farão o trabalho. A versão moderna do motor Stirling tem algumas características muito, muito atraentes, e estamos tentando otimizá-la para algumas dessas aplicações.

O desenvolvimento das turbinas a gás começou paralelamente ao desenvolvimento do motor a vapor. A primeira patente relativa ao antecessor da moderna turbina a gás foi concedida em 1791.

No entanto, a turbina a vapor se difundiu no mercado enquanto a turbina a gás enfrentou problemas tecnológicos decorrentes da falta conhecimentos sobre aerodinâmica, necessários para o projeto de compressores eficientes, e decorrentes da inexistência de materiais adequados para resistir às altas temperaturas.

Somente a partir da década de 30, a turbina a gás se tornou um produto comercial impulsionada pela indústria aeronáutica em desenvolver propulsão com menor relação peso/potência.

Atualmente, as turbinas a gás são classificadas, de acordo com a aplicação, em:

    • Industriais;
    • Aeroderivativas.

As turbinas industriais são mais robustas e podem ser encontradas com potências entre 10 kW e 350MW.

Quando comparadas com as turbinas aeroderivativas, as turbinas industriais apresentam as seguintes características:

    • Mais pesadas;
    • Mais robustas;
    • Menos eficientes;
    • Menor taxa de compressão;
    • Maior temperatura de exaustão maior;
    • Manutenção mais simples;
    • Mais baratas;

Exemplos: Solar, GE Frame, Como Funciona.

Conforme o nome já diz, as turbinas a gás aeroderivativas se baseiam nas turbinas de avião.

Quando comparadas com as turbinas industriais, as  aeroderivativas apresentam as seguintes características:

    • Mais leves;
    • Mais barulhentas;
    • Mais eficientes;
    • Maior taxa de compressão;
    • Menor temperatura de exaustão;
    • Manutenção mais complexa e na fábrica;
    • Mais caras;

Exemplo: GE LM series.

Com relação aos aspectos construtivos, as turbinas a gás se classificam em:

    • Eixo Simples;
    • Eixo Duplo;
    • Compressor Dual;
    • Regenerador;
    • Resfriador Intermediário;

Funcionamento das Turbinas Gás

Toda turbina a gás consiste basicamente em um compressor, uma câmara de combustão e uma turbina, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1. Turbina a gás

O compressor eleva a pressão do ar entregue à câmara de combustão utilizando parte do trabalho mecânico da turbina.

Por sua vez, o combustível queimado na câmara de combustão fornece energia em temperatura elevada.

Estes gases aquecidos entram na turbina e se expandem realizando trabalho mecânico, que aciona o compressor e a carga.

Finalmente, os gases da saída da turbina fluem para a atmosfera que os esfria.

Ciclo Brayton

Considerando a turbina a gás como sendo uma máquina térmica ideal, a Figura 2 mostra os quatro processos envolvidos no seu funcionamento:

    • Compressão Isentrópica, 1-2;
    • Adição de calor a pressão constante, 2-3;
    • Expansão Isentrópica, 3-4;
    • Retirada de calor a pressão constante, 4-1.
Figura 2. Diagramas termodinâmicos da turbina a gás

Este ciclo se assemelha ao ciclo de Rankine porque possui duas etapas isentrópicas e duas isobáricas.

Porém, a grande diferença consiste no fluído de trabalho e seu estado. No ciclo Rankine o fluído de trabalho – água- muda de fase, mas na turbina a gás o fluído de trabalho – ar e gases da combustão – se mantém no estado gasoso todo o tempo.

Denomina-se este ciclo termodinâmico de ciclo Brayton, que considera as seguintes hipóteses:

    • O fluído de trabalho é um gás perfeito com calor específico e composição constantes;
    • Os processos de compressão e expansão são reversíveis, isentrópicos e adiabáticos;
    • As parcelas de energia cinética são desprezíveis;
    • Não existem perdas de pressão;
    • O fluxo de massa é constante em todo o ciclo;
    • O processo de combustão é representado por um processo de transferência de calor a partir de uma fonte quente;
    • O ciclo se completa através da transferência de calor para o meio ambiente – a fonte fria;
    • Todos os processos são reversíveis;

Portanto, pode-se aplicar os conceitos básicos desenvolvidos no Capítulo de Geração a Vapor.

A Equação 1, apresentada no Capítulo Geração a Vapor, fornece a eficiência do ciclo.

Equação 1. Rendimento do ciclo Brayton

Onde:

    • η é o rendimento;
    • wliq é o trabalho líquido realizado pela máquina;
    • qh é o calor fornecido pela fonte quente;
    • ql é o calor fornecido pela fonte fria;
Figura 3. Modelo da turbina a gás

Contudo, como o fluido de trabalho se encontra sempre na fase gasosa e o considerando um gás ideal com Calor Específico constante, a Equação 2 fornece o rendimento em função das entalpias.

Equação 2. Rendimento da Turbina em função das Entalpias

Onde:

    • hi é a entalpia específica no ponto i;

De acordo com a termodinâmica e considerando o calor específico constante, a variação de entalpia depende apenas da diferença de temperatura e do calor específico do fluido de trabalho, conforme mostra a Equação 3.

Equação 3. Variação de entalpia em gases ideais

Onde:

    • Cp é o calor específico a pressão constante.

Substituindo a Equação 3 na equação 2, obtém-se a seguinte expressão:

Equação 4. Rendimento da Turbina a gás em função das temperaturas

Como as pressões de admissão e exaustão da turbina se igualam à pressão atmosférica, a queda de pressão na turbina deve se igualar ao aumento de pressão no compressor. 1 Desta maneira, a taxa de compressão na turbina será dada pela Equação 5.

Equação 5. Relação de pressão

A Equação 6 fornece a variação de entropia no compressor para gases ideais.

Equação 6 Variação de entropia no compressor

Rearrumando a Equação 6, obtém-se a relação entre as relações de pressão e temperatura no compressor.

Equação 7. Relação entre as relações de temperatura e pressão

A Equação 8 apresenta a relação entre a constante dos Gases – R – e o Calor Específico a Pressão Constante de um gás ideal – Cp0.

Equação 8. Relação entre calores específicos de gás ideal

Onde:

    • R é a constante universal dos gases;
    • Cp0 é calor específico a pressão constante;
    • Cv0 é o calor específico a volume constante.

A partir da Equação 7, obtém-se-se a relação entre temperatura e pressão na turbina considerando o ar um gás ideal. 2

Equação 9. Relação entre as relações de temperatura e pressão

A partir das Equações 9 e 5, mostra-se que T3/T2=T4/T1.

Substituindo esta relação na Equação 4, obtém-se o rendimento da turbina a gás a partir apenas das pressões P1 e P2 de acordo com a Equação 10. 

Observa-se que esse rendimento depende apenas da relação de compressão do compressor. Quanto maior a taxa de compressão, maior o rendimento.

Equação 10, Rendimento do ciclo Brayton

A Equação 11 apresenta o trabalho no compressor e na turbina.

Equação 11. Trabalho no compressor e na turbina

Substituindo a Equação 3 na Equação 11, obtém-se a Equação 12.

Equação 12. Trabalho no compressor e na turbina em função das temperaturas

Substituindo a Equação 9 na Equação 12, obtém-se a Equação 13.

Equação 13. Trabalho no compressor e na turbina em função das temperaturas e da relação de pressão.

Substituindo a Equação 5 na Equação 13, obtém-se a seguinte expressão:

Equação 14. Trabalho no compressor e na turbina em função da relação de pressão.

Por isso, o projeto das turbinas a gás apresenta dois parâmetros básicos:

    • a taxa de compressão – rc;
    • e coeficiente de temperatura – t.

A Equação 15 fornece a definições desses parâmetros.

Equação 15. Parâmetros da turbina a gás

Onde a taxa de compressão consiste na relação entre a pressão na saída e na entrada do compressor e o coeficiente de temperatura na relação entre a temperatura na saída da câmara de combustão e a temperatura do ar na entrada do compressor, em graus Kelvin.

As turbinas aeroderivativas apresentam taxa de compressão entre 20 e 30 e o coeficiente de temperatura entre 5 e 5,5.

Em todos os casos, a temperatura máxima se limita à suportabilidade térmica dos materiais utilizados, que hoje se encontra na ordem de 1 500 °C.

Utilizando a Equação 15 e a Equação 14, calcula-se o trabalho líquido disponibilizado pela turbina da seguinte maneira:

Equação 16. Trabalho líquido em função do rendimento

O segundo termo da Equação 16 requer simplificação algébrica conforme a Equação abaixo.

Equação 17. Simplificação algébrica

Aplicando a simplificação da Equação 17 na Equação 16, obtém-se a Equação 18, que determina o trabalho líquido disponibilizado pela turbina e o rendimento.

Equação 18. Trabalho líquido e eficiência do ciclo Brayton

Onde:

    • Cp é o calor específico a pressão constante;
    • Cv é o calor específico a volume constante;
    • ηt é o rendimento térmico;
    • wliq é o trabalho líquido

Deve-se observar que o rendimento depende apenas da relação de pressão e do calor específico e o trabalho depende também da relação de temperatura.

Estas expressões foram deduzidas considerando calor específico constante e o gás ideal.

Conforme mostra a Figura 3, o calor específico do ar não pode ser considerado constante entre a temperatura ambiente e a temperatura máxima da turbina. Esta variação, de aproximadamente 16%, tem algum impacto nas análises anteriores.

Figura 3. Calor específico do ar.


Exemplo #1

Considerando a Figura 4, o ar entra no compressor da turbina a gás com pressão de 0,1 Mpa e temperatura de 15 °C.

O compressor fornece ar comprimido a 1Mpa e a temperatura máxima na câmara de combustão é de 1100 °C.

Determine as seguintes grandezas analisando de acordo com as hipóteses do ciclo Brayton:

    • A temperatura e pressão em todos os pontos do ciclo;
    • O trabalho no compressor e na turbina;

    • O rendimento do conjunto.

exemplo # 1 turbina a gás
Figura 4. Turbina Exemplo #1
Solução

Por se tratar de processo isoentrópico, a Equação 3 fornece a relação entre as temperaturas na saída do compressor e a temperatura do ar – pontos 2 e 1.

Equação 3. Temperatura do ar na saída do compressor

A variação da entropia entre os estados 1 e 2 fornece o trabalho realizado pelo compressor.

Equação 4. Trabalho no compressor

Por sua vez, a Equação 5 determina o trabalho realizado pela turbina.

Equação 5. Trabalho na turbina

Desta maneira, a Equação 6 determina a temperatura e o trabalho na saída da turbina.

Equação 6. Trabalho da turbina

O compressor utiliza parte deste trabalho gerado pela turbina e a Equação 7 fornece o trabalho mecânico líquido disponível para o gerador.

Equação 7. Trabalho líquido realizado pela turbina

O ciclo se completa com o resfriamento dos gases de escape da turbina na atmosfera. Desta maneira, a Equação 8 determina o calor rejeitado.

Equação 8. Trabalho líquido realizado pela turbina

Finalmente, determina-se o rendimento térmico do sistema. Para isso, deve-se calcular a quantidade de calor injetado na turbina. Considerando o sistema ideal, a Equação 9 fornece o calor injetado na turbina.

Equação 9. Calor injetado na turbina

Finalmente, a Equação 10 calcula o rendimento térmico da turbina.

Equação 10. Rendimento da turbina

Obtém-se esse mesmo valor através da Equação 2.