Materiais Elétricos e Magnéticos

Inventar consiste na combinação de cérebro e materiais.
Quando mais cérebro se utiliza, menos material se gasta.
Charles Kettering

Materiais Elétricos e Magnéticos

Materiais Elétricos e Magnéticos se encontram no centro da tecnologia e do mundo moderno e representam as tintas e pincéis da fascinante arte da Engenharia.

Para muitos, Engenharia consiste apenas na aplicação enfadonha de Matemática, Física e Química, mas poucos enxergam a arte e a beleza dessa profissão. 

Tudo começou quando o homem transformou pedras em ferramentas, e a Idade da Pedra marcou o início da Ciência dos Materiais.

Segundo Adams (2011), a Ciência dos Materiais produziu cerca de 5% dos artigos indexados pela Web of Science, e este percentual dobrou entre 1981 e 2009. A China se destaca pela quantidade de trabalhos publicados, seguida pelos Estados Unidos da América. Dominar a Ciência dos Materiais representa uma vantagem competitiva que mudou, e continuará mudando, o curso da história. 

Blázquez & Guerrero  mostram que a produção científica na área de materiais cresceu exponencialmente a partir de 1960 no mundo, demonstrando a importância do assunto na comunidade científica e, consequentemente, na engenharia.

Matéria e Energia compõe o Universo, e Einstein provou que elas se relacionam através da velocidade da luz. 

Figura 1. Energia x Matéria

Propriedades dos Materiais

Contudo, nem toda matéria é material. Para se tornar material, a matéria necessita das propriedades apresentadas na Figura 2, e a escolha do material resulta de um processo de otimização que incorpora todas elas.

Propriedades dos Materiais
Figura 2. Propriedades dos Materiais

Disponibilidade dos Materiais

A disponibilidade consiste na primeira característica necessária para a matéria se tornar material.  Matéria indisponível não é material, e a disponibilidade depende da localização e do tempo.

Por exemplo, não se utiliza o concreto em regiões secas ou desérticas devido à indisponibilidade da água necessária para sua fabricação.

Mede-se a disponibilidade dos elementos químicos através de sua ocorrência no universo, na crosta da terra, e nos oceanos. Evidentemente, a disponibilidade dos materiais se encontra relacionada à ocorrência dos elementos químicos na crosta da terra.

A Figura 3 mostra que o Oxigênio e o Silício apresentam as maiores disponibilidades na crosta terrestre, e os elementos radioativos instáveis inexistem.

Portanto, a disponibilidade se tornou condição necessária, mas não suficiente, na escolha do material.

Disponibilidade dos Elementos químicos
Figura 3. Disponibilidade dos elementos químicos na crosta terrestre. Fonte: Ptable.

Propriedades Físico-Químicas

A matéria deve possuir determinadas propriedades físico-químicas para se tornar material. Por exemplo, a condutividade elétrica determina a escolha dos materiais de fios e cabos elétricos.

A Figura 4 mostra que a Prata possui a maior condutividade elétrica dentre todos os elementos da Tabela Periódica e, por isso, deveria ser a escolha para a fabricação de fios e cabos.

Porém, o Cobre se tornou um dos principais materiais na fabricação de fios e cabos condutores de eletricidade, apesar de possuir uma condutividade elétrica 5% menor do que a Prata, porque apresenta disponibilidade 900 vezes maior e custo inferior.

Por outro lado, a baixa condutividade elétrica do oxigênio e sua elevada disponibilidade o colocaram como o isolante elétrico mais utilizado em linhas de transmissão e subestações de energia elétrica.

Condutividade Elétrica dos Elementos Químicos
Figura 4. Condutividade Elétrica dos Elementos Químicos. Fonte: Ptable

Essa lógica ocorre com todas as outras propriedades físicas e químicas da matéria.

O material para o filamento das lâmpadas incandescentes exemplifica que as propriedades elétricas nem sempre determinam a escolha do material mais adequado para equipamentos elétricos.

Lâmpadas incandescentes funcionam a partir da emissão de luz causada por temperaturas elevadas. Portanto, a lâmpada incandescente ideal deveria funcionar com a temperatura mais próxima da temperatura da superfície do nosso sol – 4 727 oC. Entretanto, para que isso seja possível, necessita-se encontrar um material que suporte elevadas temperaturas. Isto significa encontrar substâncias com temperaturas de fusão próximas da temperatura da superfície do sol.

A Figura 5 mostra que o Carbono e o Tungstênio apresentam as maiores temperaturas de fusão, 3 600 oC e 3 422 oC respectivamente. Porém, como essas temperaturas se encontram 28% inferiores à temperatura do sol, o olho humano percebe essa diferença através do melhor conforto de visão com a luz solar.

Como o Tungstênio somente foi descoberto no início do século XX, o desenvolvimento da lâmpada iniciou com o Carbono. Porém, o Carbono possui uma propriedade extremamente indesejável; ele entra em combustão na presença do oxigênio. Por isso, as lâmpadas duravam apenas minutos no início do seu desenvolvimento.

Temperatura de Fusão dos Elementos Químicos
Figura 5. Temperatura de Fusão dos Elementos Químicos. Fonte: Ptable

Portanto, deve-se considerar todas as propriedades físicas e químicas na escolha dos materiais aplicados a projetos de engenharia.

Comportamento dos Materiais

Estímulos externos afetam a matéria, e a resposta aos estímulos depende da Estrutura da Matéria.

De uma forma geral, sempre existirá uma função matemática – R – que aproxima a relação entre resposta e estímulo. Esta função pode assumir diversas formas, normalmente não lineares, conforme mostram as curvas A a D da Figura 3.

Figura 3. Estímulo x Resposta

Normalmente, determina-se esta função R empiricamente sem utilizar nenhuma teoria. Na verdade, a história dos materiais iniciou de forma empírica e a ciência evoluiu posteriormente explicando os resultados experimentais.

A função R, que representa determinada propriedade do material, pode ser expandida como uma série de Taylor de acordo com a Equação 1.

Quando o material não apresenta resposta permanente ou remanente ao estímulo, a parcela R0 se torna nula.

taylor
Equação 1. Série de Taylor da função R

Esta condição se torna desejável para assegurar a linearidade da função, propriedade matemática que facilita o uso prático da equação.

Contudo, isso nem sempre ocorre na prática. Por exemplo, a resposta permanente existe no caso de deformação plástica ou magnetismo residual.

Aproxima-se a série de Taylor apenas pelo primeiro termo do somatório da Equação 1 para assegurar a linearidade da função. O erro desta aproximação depende do valor relativo dos demais termos da série, mas garante a linearidade da propriedade do material.

A Equação 2 apresenta a relação resposta/estímulo aproximada.

propriedades
Equação 2. Série de Taylor aproximada

Livros e manuais apresentam a grandeza P como a propriedade do material, mas deve-se sempre ter em mente a aproximação desse valor.

Por exemplo, a resistividade elétrica dos metais aumenta com a temperatura de forma não linear, mas essa dependência pode ser considerada linear para determinadas faixas de temperaturas.

Todas as grandezas físicas e químicas representam potenciais estímulos, e classificam-se as grandezas em Intensivas ou Extensivas.

Grandezas Intensivas independem1 das dimensões do sistema ou da quantidade de material, tais como volume e massa.

Massa Específica, Temperatura, Resistividade Elétrica, Pressão e Índice de Refração representam algumas das grandezas intensivas.

Grandezas Extensivas dependem das dimensões do sistema ou da quantidade de material.

Massa, Volume, Resistência Elétrica, Energia e Carga Elétrica exemplificam as grandezas extensivas.

A divisão de duas propriedades extensivas gera uma propriedade intensiva, e grandezas intensivas podem ser consideradas grandezas normalizadas.

Por exemplo, a divisão da massa pelo volume de um material, ambas grandezas extensivas, gera uma grandeza intensiva denominada de massa específica.


Questões Propostas
  1. O que pesa mais, um quilograma de Chumbo ou um quilograma de Alumínio?
  2. Qual a relação dessa pergunta com as grandezas intensivas e extensivas?

A Ciência dos Materiais enfoca nas Propriedades Intensivas porque se encontram relacionadas apenas às características intrínsecas dos materiais e independem da sua quantidade ou dimensões.

Por outro lado, a Engenharia utiliza as propriedades Extensivas porque projetos possuem dimensões físicas e, consequentemente, torna-se necessário considerar massa e volume.

Portanto, engenheiros devem conhecer ambas para entender as características dos materiais e atender às especificações dos projetos.

Trabalhabilidade dos Materiais

Necessita-se trabalhar a matéria para que possamos considerá-la material. A trabalhabilidade representa a facilidade com que se obtêm e manuseia a matéria.

A obtenção do material se relacionada com a disponibilidade na terra, os minérios, as minas e os processos químicos de separação de elementos.

O manuseio do material, após sua obtenção, depende das propriedades mecânicas, tais como a elasticidade e tenacidade.

A Figura 4 mostra a relativa facilidade de trabalhar a madeira. A importância da madeira como material decorre da sua disponibilidade em quase todas as regiões do planeta2, de suas propriedades e da sua trabalhabilidade. Qualquer pessoa pode trabalhar com madeira em casa com ferramentas simples e sem riscos. 

Figura 4. Trabalhabilidade

Por outro lado, o cobre ocorre na terra na forma metálica e, consequentemente, se tornou mais simples obtê-lo do que outros elementos. Seu uso remonta 8 000 anos antes de cristo e somente 4 000 anos depois surgiu o Bronze, uma liga de cobre e estanho.

Economicidade dos Materiais

A Matéria pode possuir todas as características adequadas, mas, se não for econômico utilizá-la, não se pode considerá-la material.

Conforme visto na Figura 4, a prata possui a maior condutividade elétrica dentre os elementos da tabela periódica. Contudo, não a utilizamos em condutores elétricos devido seu custo, que decorre, em parte, da sua disponibilidade e de seu valor de mercado.

Por sua vez, o Alumínio consiste no elemento metálico mais abundante na crosta terrestre – 1 000 superior à do Cobre, mas possui uma condutividade elétrica 36% menor. Todavia, como possui densidade 70% menor do que a do cobre, o Alumínio se tornou o material preferido para cabos linhas de transmissão de energia elétrica porque reduz o custo total do projeto. 

A Economicidade dos Materiais depende do preço, que varia de acordo com as leis da oferta e procura, da disponibilidade e das propriedades.

Resumindo, a Engenharia identifica materiais, encontra aplicações para novas propriedades, e desenvolve processos para utilizá-los de forma econômica.

Sustentabilidade dos Materiais

Finalmente, surgiu recentemente a questão da Sustentabilidade. Além de todas as propriedades anteriores, a questão ambiental também se encontra presente nos materiais.

De nada adiantam materiais com excelentes propriedades se forem nocivos ao meio ambiente e/ou à vida na terra.

Por exemplo, os plásticos, que revolucionaram os tempos modernos, se encontram na mira dos ambientalistas em decorrência da sua durabilidade. A quantidade de lixo plástico representa um problema ambiental que afeta a todos. Isto resultou no renascimento do papel em embalagens, apesar de contribuir para o desmatamento.

Contudo, a questão ambiental criou oportunidades para o desenvolvimento de novos materiais sustentáveis e processos de reciclagem.

Resumindo, Deus criou a Matéria, mas o Engenheiro a transforma em Material.

Referências

  1. ADAMS, J, PENDLEBURY, D., Global Research Report – Materials Science and Technology, Evidence, 2011.
  2. Ariza-Guerrero, A.M., Blázquez, J.S. Evolution of number of citations per article in Materials Science: possible causes and effect on the impact factor of journals.Scientometrics 128, 6589–6609 (2023). https://doi.org/10.1007/s11192-023-04863-7