A Figura 1 apresenta cristais com formas geométricas diferentes das sete apresentadas anteriormente, e algumas dessas formas encontram-se na Figura 2. O corte ou crescimento dos cristais em determinados planos explicam estas novas formas. Mas como definir precisamente a enorme quantidade de planos possíveis?
Em 1839, o mineralogista Wiliam Miller criou um sistema para designar de forma precisa todos os planos.
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Os Planos Cristalinos são planos paralelos, periódicos, e fictícios que unem pontos da Rede Cristalina, conforme mostra a Figura 3.
Como teoricamente as redes cristalinas são infinitas, existem infinitos planos, mas observa-se que existem finitas famílias de planos.1
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Os Índices de Miller, formados por conjuntos de três números inteiros (h,k,l), foram criados para designar de forma universal as famílias de planos. Estes números representam em quantas vezes o plano divide os lados da célula unitária nas direções a,b,c.
A Figuras 3 permite visualizar melhor este conceito. Nela aparecem os três casos simples e básicos, onde a distância entre planos coincide com o tamanho da célula e o eixo c encontra-se perpendicular ao plano da figura e, por isso, não aparece. Observa-se que h torna-se 1 quando o plano é perpendicular à direção a e zero quando paralelo. Isto contraria um pouco a noção vetorial, mas todo o mundo da Cristalografia o adota.
No caso de planos paralelos inclinados com relação à célula unitária, passam a existir valores para h e k[efn-note] e l se o eixo c estiver presente.[/efn_note]
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A Figura 4 mostra exemplos com distâncias entre os planos menores, que possuem duas possibilidades de orientação relativa. Em ambos os casos, os planos dividem o eixo b em duas partes e o eixo a em uma, logo a notação de ambos deveria ser (120). Porém, os planos são claramente distintos e devem possuir representações diferentes, um deles deverá ter uma coordenada negativa2 e o outro positiva.
Para solucionar esta questão, adotou-se a convenção de considerar o ponto verde na figura como referência. A escolha deste ponto resulta em coordenadas positivas para todos os outros pontos da célula. Para determinar o sinal do índice k, considere um outro plano que corte o eixo a da célula de referência escolhida, se este plano cortar o eixo b na parte positiva, o índice k será positivo. No caso deste plano cortar o eixo b na parte negativa, o índice k será negativo conforme mostra a Figura 4.
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Desta maneira, as formas apresentadas na Figura 2 podem ser interpretadas como conjuntos de Células Unitárias cortadas por planos identificados pelos Índices de Miller.
Apenas como ilustração, a Figura 5 apresenta alguns planos com seus respectivos Índices de Miller.
Observa-se que os índices permanecem números inteiros quando cortam os eixos em distâncias inferiores a 1 e deveriam ser números fracionários no caso de cortarem os eixos em distâncias superiores a um. Neste segundo caso, os índices passariam a ser números decimais com muitos algarismos significativos. Para fugir desta questão, determina-se o MMC dos índices fracionários e utiliza-se apenas os numeradores como índice, conforme mostra o plano rosa da Figura 5.
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Direções
Conforme veremos no capítulo Classes Cristalinas, a identificação de direções e coordenadas torna-se necessária na Cristalografia.
Até agora, sempre foi possível utilizar o sistema de referência ortogonal a,b,c para definir os planos cristalinos. Contudo, isto nem sempre ocorre.
Por exemplo, a Figura 6 apresenta o plano (000)3 de uma rede cristalina tridimensional formada pelos pontos verdes montada no sistema de referência abc. Considerando o cristal hexagonal, representado pelo hexágono azul na Figura 6, torna-se conveniente definir as direções dos vetores azuis. Para isso, utiliza-se o parênteses -[]- delimitando as coordenadas da direção ou vetor. A notação do novo sistema de coordenadas, formado pelos três vetores azuis, utiliza os símbolos menor e maior – <>- para simplificar a notação, no caso <210>4 .
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