“Se você não suporta o calor, saia da cozinha”
Harry Truman
A condutividade térmica consiste na propriedade dos materiais sólidos em conduzir calor e se encontra intimamente relacionada com a condutividade elétrica.
O fluxo de calor, ocasionado por gradientes de temperatura nos materiais, ocorre de três maneiras; Condução, Convecção e Radiação. A forma predominante de transferência de calor depende do sistema e das diferenças (gradiente) de temperatura.
A condução consiste na forma de transferência de calor no interior dos materiais sólidos, e ocorre através da transmissão de energia entre átomos e moléculas a partir dos pontos mais quentes para os mais frios.
A lei de Fourier descreve seu comportamento de acordo com a Equação 1.
Onde:
-
- q é o fluxo de calor em função do tempo por unidade de área normal ao fluxo de calor [W/m2];
- k é a condutividade térmica do material [W/(m2.K)];
- ▽T é o gradiente da temperatura [K/m ou C/m];
A Figura 1 mostra a condução de calor unidirecional. Neste caso, a Equação 1 transforma-se na Equação 2.
A Condutividade Térmica representa a capacidade do material conduzir calor em regime permanente. Ela depende do tipo de material, sendo mais elevada para os metais e menor para líquidos e gases.
Contudo, existem exceções.
Por exemplo, o Diamante natural tipo IIa (sem nitrogênio) apresenta condutividade térmica de 2 300 W/m/K na temperatura ambiente, e o Grafeno 5 000 W/m/K. Ambos são variações cristalinas de carbono, que não pertence ao grupo de metais.
A Figura 2 apresenta a distribuição dos valores de condutividade térmica dos diversos tipos de materiais. Observa-se que os metais apresentam os valores mais elevados de condutividade térmica e os materiais isolantes desgaseificados possuem os menores valores.
Em 1853, alguns anos após a descoberta da Lei de Ohm, mas antes da Teoria de Drude sobre a condutividade elétrica, Gustav Wiedemann e Rudolph Franz descobriram empiricamente que as condutividades térmica e elétrica se encontram relacionadas da seguinte maneira:
Onde:
-
- κ é a condutividade térmica [W/m/K];
- σ é a condutividade elétrica [S/m]
- L é a constante de Lorenz [2,443 004 509 073 67 x 10-8 W.Ω/K2]1;
- T é a temperatura[K].
Somente em 1872, 19 anos após a descoberta de Wiedermann e Franz e antes da Teoria de Drude, Ludvig Lorenz calculou o valor da constante, que passou a levar seu nome.
A teoria para explicar a relação entre condutividades elétrica e térmica se baseia na Teoria Cinética dos Gases e na Teoria de Drude.
De acordo com a Teoria Cinética dos Gases, a Equação 4 determina a Condutividade Térmica.
Onde:
-
- κ é a condutividade térmica
- v é a velocidade média das moléculas do gás;
- τ é o tempo médio entre colisões das moléculas;
- cv é o calor específico a volume constante.
Drude aplicou a Teoria Cinética dos Gases aos Elétrons de Valência e dividindo a Equação 4 pela Equação 13 da página Condutividade Elétrica, obteve a seguinte expressão:
Considerando as expressões abaixo oriundas da Teoria Cinética dos Gases.
Drude aplicou a Equação 6 na Equação 5 e obteve o seguinte resultado para a Constante de Lorenz:
Onde:
-
- kb é a constante de Boltzmann;
- e é a carga do Elétron.
Este valor, obtido muito antes da Mecânica Quântica apresenta um pequeno erro, que foi posteriormente corrigido da seguinte maneira:
Na prática, a condutividade térmica varia com a temperatura e com a orientação de materiais anisotrópicos. De uma maneira geral, ela diminui com o aumento da temperatura para os metais e aumenta nos gases. Empiricamente, a condutividade térmica dos materiais varia com a temperatura da seguinte maneira [Yaws]:
Tabela 1. Condutividade Térmica – Inorgânicos
Nome Fórmula A B C k @ 25 C
(W/(m.K)Tmin
(K)Tmax
(K)
Prata Ag 438,22 -2,30e-2 -354e-5 428,23 200 1200
Alumínio Al 228,21 5,80e-2 -8,68e-5 237,79 200 934
Ouro Au 335,45 -5,83e-2 -7,48e-6 317,42 200 1300
Cobre Cobre 426,30 -8,39e-2 9,38e-6 402,11 200 1300
Ferro Fe 117,32 -1,38e-1 5,42e-5 81,11 200 1000
Sal NaCl 51,61 -2,96e-1 4,71e-4 5,157 80 380
Silício Si 436,78 -1,29 1,11e-3 152,24 250 600
Água H20 -0,28 4,61e-3 -5,54e-6 0,607 273 633
Chumbo Pb 39,33 -1,35e-2 5,15e-7 35,36 200 600
Estanho Sn 92,31 -1,15e-1 1,0e-4 66,78 200 600
Kanthal A-1 FeCrAl 10,76 1,15e-2 3,43e-6 11
Constantan 55%Cu 45%Ni 49
Tungstênio W 192,98 -7,85e-2 1,44e-5 170,84 250 3400
Fonte: Yaws
A partir da Equação 3, pode-se calcular a Relação de Lorenz da seguinte maneira:
Utiliza-se a denominação de Relação de Lorenz Experimental para diferenciar da Constante de Lorenz porque a constante possui origem teórica e a Relação se origina de dados medidos.
A Tabela 2 apresenta a Relação de Lorenz para alguns materiais calculada a partir de resistividade elétrica e condutividade térmica medidas.
Tabela 2. Relação de Lorenz Experimental
Fonte: Yaws Condutividade Térmica, CRC Handbook resistividade elétrica
Material Resistividade Elétrica
[E-8. Ohms.m] @ 20CCondutividade Térmica
[W/(m.K)] @ 25 CRelação de Lorenz
[E-8. W.Ohm/K^2]
Alumínio 2,65
210 1,90
Chumbo 20,8 35,36 2,51
Cobre 1,678 402,11
2,303
Constantan 45,38
49 7,59
Estanho 11,5 66,78 2,62
Ferro 9,61 81,11 2,66
Kanthal A-1 145 11 5,4
Ouro 2,214 317,42 2,399
Prata 1,587
428,23 2,319
Sal 4,77 5,157 0,08
Silício 10000 152,24 5196
Tungstênio 5,28
170,84 3,08
Água 1,818 E5 [Ohm.m] 0,607 377
A análise da Tabela 2 mostra que a Relação de Lorenz se aproxima do valor teórico apenas para os elementos metálicos. 2
O Sal, o Silício e a Água apresentam valores extremamente discrepantes porque não são metais. O Sal é um composto químico, o Silício um semicondutor e a água um isolante elétrico.
Adicionalmente, as ligas metálicas3 exibiram valores da mesma ordem de grandeza do valor teórico, mas três e duas vezes maiores respectivamente.
Finalmente, os elementos metálicos Alumínio e Tungstênio apresentaram valores 22% menor e 26% maior respectivamente do que o valor teórico.
Isto indica que os modelos teóricos da condução térmica e resistividade elétrica ainda requerem aperfeiçoamentos.
Contudo, pode-se utilizar os valores das Relações de Lorenz para obter as relações entre condutividade térmica e resistividade elétrica de um grupo importante de condutores elétricos.
A análise da Equação 9 mostra que a condutividade térmica tende para A quando a temperatura tende para o zero absoluto. Contudo, todas as expressões empíricas possuem validade apenas nos intervalos de temperatura apresentados nas tabelas.
Por outro lado, para líquidos orgânicos, a condutividade térmica varia da seguinte maneira [Yaws]:
Tabela 2. Condutividade Térmica – Orgânicos
Fórmula Nome A B C k @ 25 C Tmin Tmax
CH4 Metano -1,0976 0,5387 190,58 91 181
C2H60 Etanol -1,3172 0,6987 516,25 0,1694 159 490
C5H402 Furfural -1,365 0,7132 657 0,1718 237 624
Fonte: Yaws
Nem todos os materiais são isotrópicos e, no caso de materiais anisotrópicos, a condução de calor ocorre de acordo com a Equação 11.
Onde a condutividade térmica se torna um tensor polar simétrico de segunda ordem, kij=kji.
Conforme mostra a Figura 3, pode-se interpretar o fluxo de calor no processo de condução térmica como uma fonte de corrente, a temperatura como tensão elétrica, e a resistência térmica dada pela Equação 12.
Onde:
-
- L é o comprimento do material na direção do fluxo de calor [m];
- A é a área do material normal ao fluxo de calor [m2];
- k é a condutividade térmica do material [W/m/K];
- Rth é a resistência térmica[K/W].
Por isso, a teoria de circuitos elétricos se aplica a resistências térmicas. Diversas resistências térmicas de um sistema podem ser agrupadas aplicando-se as mesmas regras de associação de resistências em série e em paralelo.
Inércia Térmica
O aquecimento dos materiais não ocorre instantaneamente. A temperatura da água, quando colocada numa panela no fogão, aumenta lentamente e o tempo gasto no aquecimento depende da quantidade de água na panela.
Devido à similaridade dos sistemas térmicos com os sistemas elétricos, pode-se simular este sistema térmico como um circuito RC, conforme a Figura 4.
Impedância Térmica
O conceito de Impedância Térmica se baseia na Inércia Térmica.
A Figura 5 mostra este conceito. Quando se aplica um degrau de calor a um sistema térmico, a temperatura varia como a tensão T1 da Figura 3 após a aplicação de um degrau de corrente, conforme a Equação 6.
Difusividade Térmica
Define-se a Difusividade Térmica como a Condutividade Térmica dividida pela Massa Específica e pelo Calor Específico a pressão constante do material – Equação 8.
A Difusão Térmica, determinada pela expressão abaixo, se encontra relacionada com a constante de tempo térmica.
Onde:
-
- a é a difusão térmica[m2/s];
- k é a condutividade térmica[W/m/K];
- cp é o calor específico [W.s/kg];
- ρ é a densidade [kg/m3];
- τ é a constante de tempo de difusão térmica[s];
- L é o comprimento do material no sentido do fluxo de calor[m].
Referências
- ASHCROFT, N.W., MERMIN, N.D., Solid State Physics, Harcourt, 1976.
- ÇENGEL, Y. A., Heat Transfer, McGraw-Hill, McGraw – Hill; 2003.
- HAHN, D. W., OZISIK, M. N., Heat Conduction, 3 ed., Wiley, 2012.
- KITTEL, C., Introduction to Solid State Physics, 8 Edição, Wiley, 2005.
- TRITT, T. M., Thermal Conductivity – Theory, Properties and Applications, Kluwer/Plenum, 2004.
- YAWS, C., Chemical Properties Handbook, McGraw-Hill,1999.