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Erros sem conta

Enviado por Miriam Leitão e Alvaro Gribel em 21.09.2014

Coluna no Globo

Tomara que o próximo governante saiba como resolver o nó energético do país, porque até agora o debate passou apenas pela superfície de uma crise que não tem tamanho. O governo ficou tão temeroso de admitir riscos de falta suprimento em ano de eleição que aprofundou o problema. Se tivesse havido esforço para economizar energia, a tarifa a pagar em 2015 seria menor.

Com campanhas de redução de consumo de luz, racionalização de uso, o país teria diminuído o consumo de energia em 2014. Isso teria poupado água nos reservatórios e menos termelétricas teriam sido usadas. Com menos geração térmica, a conta a pagar seria menor. Porque é assim: quanto mais se usa hoje, mais se paga amanhã. Pelas normas da Aneel, o custo de um ano vai para o seguinte.

A teimosia do governo aumentou a conta do futuro. O especialista Mário Veiga alertou para isso em entrevista que me concedeu no começo deste ano: como choveu bem menos que a média histórica todos os meses, o mais correto do ponto de vista da gestão do setor elétrico seria reduzir o consumo para poupar o bolso e para se prevenir contra o cenário pior.

Quanto maior o consumo das famílias e das empresas, maior é a necessidade de se usar térmicas. Isso eleva o custo das empresas distribuidoras na compra da energia. Outro problema é o das geradoras. Como choveu pouco, as hidrelétricas tiveram menos água nos reservatórios. O ONS mandou que elas gerassem o pico da sua capacidade, mas elas não conseguiram, por falta de água, e foram obrigadas a comprar das térmicas e arcar com a enorme diferença de custos.

O governo é culpado pelo agravamento da crise, por vários motivos. Primeiro, reduziu o preço da energia no momento errado e pelos motivos errados; segundo, adiou o programa de bandeiras tarifárias que entraria em vigor este ano. Será só no ano que vem, porque o governo não quer dar má notícia ao eleitor. O sistema de bandeiras tarifárias funcionaria como um sinal amarelo, o preço subiria quando fosse usada mais energia térmica, que é mais cara. Terceiro, em vez de avaliar sinceramente a grave crise financeira das distribuidoras, preferiu inventar a fórmula do empréstimo via CCEE para empurrar o problema para a conta do ano que vem; quarto, foi ele que, por imperícia nos leilões, deixou empresas descontratadas. Quinto: um empréstimo de R$ 10 bilhões dado pelo Tesouro em 2013 às distribuidoras deveria ter sido pago em 2014, mas foi adiado para depois da eleição.

Ficou conta demais para depois das eleições. As tarifas terão que compensar o empréstimo do Tesouro, os dois empréstimos tomados pela CCEE, os aumentos de custos das empresas e, além disso, entrará em vigor o sistema das bandeiras tarifárias. Como desarmar essa bomba? Ela foi jogada no colo de quem governar o Brasil a partir de 2015.

As geradoras estão arcando com um custo despropositado por não poderem gerar o que lhes manda o ONS. Elas simplesmente não têm água para gerar. E o custo delas não poderá ser repassado porque não está previsto em lei. O governo disse que faz parte do “risco do negócio”. Ora, nenhum setor tem que arcar com um rombo que pode chegar a R$ 20 bilhões por problemas que não foram criados por ele. Isso não é risco do negócio, é erro de gestão governamental.

O Brasil está em uma situação esquisita. Apesar de não ter crescido, foi o país no qual mais aumentou a taxa de carbono na economia, segundo uma pesquisa da consultoria PwC, que acompanha há anos seis anos o grau de “carbonização” dos países. A carbonização da economia brasileira aumentou 5,5% entre 2012 e 2013, pelo uso maior das térmicas, que já começou no ano passado. A nossa matriz está ficando mais suja, apesar de o Brasil estar crescendo pouco.

É muito mais fácil para o governo dizer que tudo que está acontecendo é provocado pela falta das chuvas. A imprevidência da gestão hídrica provocou problemas de abastecimento de água em São Paulo na administração tucana, e isso calou uma parte da oposição. De qualquer maneira, no pouco tempo de um debate, em uma entrevista ou na propaganda eleitoral, é difícil explicar a sucessão de erros do governo na área de energia. Esses quatro anos de Dilma deixam uma pesada herança que será um desafio enfrentar.

Disponível em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2014/09/21/erros-sem-conta-550261.asp
Acessado em 27/9/2014 às 10:30.

ONS tenta explicar suas decisões

Enviado por Miriam Leitão em 26.9.2014

Resposta

Abaixo, a carta enviada pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, no dia 22 de setembro. Nela, o dirigente tenta explicar as decisões da instituição:

Com relação às informações publicadas na coluna Míriam Leitão, de 21/09/2014, identificamos inconsistências no que diz respeito ao ONS, as quais esclarecemos aos seus leitores:

Sobre a adoção de campanhas de redução de consumo de energia elétrica

— A geração térmica, mesmo com a redução do consumo, seria mantida nos mesmos valores, visando à recuperação dos níveis de armazenamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas, buscando maior garantia no atendimento a 2015.

— A redução do consumo causa para a sociedade o chamado “custo de déficit”, anualmente publicado pela Aneel e levado em conta nos modelos de despacho pelo ONS. Ressaltamos que o custo de geração térmica é inferior ao de déficit. Logo, seria um contrassenso reduzir o consumo de energia, que tem valor mais elevado, para promover a redução de geração térmica, que tem menor custo.

— A atual configuração da matriz energética brasileira, com maior predominância de novas usinas hidráulicas a fio d’água, requer maior participação de geração termelétrica, face ao natural deplecionamento dos reservatórios no período seco de cada ano. Este ano, o fato foi agravado pelo comportamento desfavorável das chuvas e vazões dos rios.

Sobre o suposto comando do ONS para que as usinas hidrelétricas gerassem além do pico de sua capacidade

— O ONS instrui o despacho das usinas hidrelétricas a intervalos de 30 minutos, por meio da programação diária da operação. Os valores programados são relativos à disponibilidade das usinas, conforme informação dos Agentes, em função das condições operativas e não em relação ao pico da sua capacidade. Com isso, há garantia de que toda a geração programada pelo ONS possa ser efetivamente produzida em tempo real.

O ONS está à disposição para toda e qualquer informação adicional que a colunista necessite para esclarecer aos leitores.

Hermes Chipp
Diretor Geral do ONS

Disponível em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/Default.asp?a=73&cod_blog=84&ch=n&palavra=&pagAtual=1%20&periodo=201409
Acessado em 27/9/2014 às 10:40.

A crise e a carta

Enviado por Miriam Leitão, Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro em 26.9.2014

No Globo

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não gosta do que eu escrevo aqui sobre a crise do setor. Entendo. Desta vez, o diretor-geral, Hermes Chipp, enviou uma longa carta cheia de detalhes técnicos. Nenhuma palavra sobre a questão central que tenho escrito: estamos vivendo uma grave crise elétrica que está abalando a saúde financeira das empresas e ameaça cair sobre o consumidor.

Hermes Chipp disse que há “inconsistências” no que escrevi domingo. Contesta a necessidade de ter sido feita uma campanha para reduzir o consumo quando se constatou que a chuva foi pouca e o nível dos reservatórios estava caindo. Ele disse que, se houvesse a redução, o custo da energia seria o mesmo, já que teria que continuar sendo usada a geração térmica. “Visando à recuperação das usinas hidrelétricas buscando maior garantia no atendimento de 2015.”

Ora, se temos um problema que pode se estender até o ano que vem, qualquer economia levaria ao aumento da segurança do sistema. Em época de stress hídrico é hora, sim, de economizar.

Ele escreveu em outro parágrafo de sua longa carta, em resposta a uma coluna que citou o ONS lateralmente, o seguinte: “a redução do consumo causa para a sociedade o chamado ‘custo do déficit’, anualmente publicado pela Aneel e levado em conta nos modelos de despacho pelo ONS. Ressalvamos que o custo de geração térmica é inferior ao do déficit. Logo, seria um contrassenso reduzir o consumo de energia, que tem valor elevado, para promover a redução de geração térmica, que tem menor custo.”

Estranho argumento, ou seja, dado que existe esse “custo do déficit” não devemos fazer o que é sensato: reduzir o consumo em tempos de escassez. Quanto ao preço da geração térmica, seu alto custo é uma das razões das inegáveis dificuldades financeiras do setor que serão pagas pelos consumidores.

Na carta, Hermes Chipp diz que: “A atual configuração da matriz energética brasileira, com maior predominância de novas usinas hidrelétricas a fio d’água, requer maior participação das térmicas...” As hidrelétricas a fio d’água são opção recente; não podem ser culpadas pela crise atual. É assim: antes se construíam grandes reservatórios. A maioria das usinas do país tem grandes lagos. Agora, para as novas hidrelétricas da Amazônia, como as do Rio Madeira, foi feita a opção de pequenos reservatórios. Elas não são a maioria do sistema e não podem ser a causa dos problemas atuais. Há boas e más usinas de barragem. A de Itaipu afogou as Sete Quedas num lago de 1.350 km², mas tem alta geração, de 14 mil megawatts. A de Balbina é um crime ambiental porque alagou 2.360 km² de Floresta Amazônica para gerar míseros 250 megawatts, equivalente a um terço de apenas uma das 20 turbinas de Itaipu. Existem barragens que fazem sentido, outras não.

O grande problema sobre o qual já falei aqui, reproduzindo alerta do especialista Mário Veiga, é que os reservatórios estão assoreando de tal forma que o Brasil pode estar com a capacidade de geração hidráulica menor do que registra em suas estatísticas elétricas. Veiga usa a imagem do comprador de um carro que faz 25 km/l e anos depois o veículo já gasto está fazendo apenas 15 km/l. Se o dono continuar teimando que é 25 km/l poderá ficar na estrada. Temos portanto que rever com análise mais acurada a nossa capacidade e recuperar os reservatórios existentes.

Não é a primeira vez que Hermes Chipp reclama por pequenas citações na coluna. Leia a íntegra da carta no blog. Lamento, mas escrevo o que apuro. Nessa última carta ele rebateu o que chamou de “suposto comando do ONS para que as usinas hidrelétricas gerassem além do pico de sua necessidade”. Aqui se falou da ordem de gerar no máximo da capacidade, e não “além do pico”. E são as hidrelétricas que estão reclamando que não podem gerar tudo o que normalmente gerariam por falta de água e por isso precisam comprar das térmicas a um preço maior do que vão entregar. Isso está arruinando financeiramente as empresas.

Todos os órgãos do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico deveriam deixar de lado os melindres e se juntar para apontar soluções para a mais grave crise que já surgiu desde o apagão. Isso é o que tem que mobilizar os esforços do setor.  

Disponível em http://oglobo.globo.com/economia/miriam/Default.asp?a=73&cod_blog=84&ch=n&palavra=&pagAtual=1%20&periodo=201409
Acessado em27/9/2014 às 10:45